Em conversas privadas, ex-presidente dos EUA sugeriu a aliados europeus que medida econômica contra países que compram petróleo russo seria uma forma eficaz de minar o financiamento da guerra na Ucrânia. Especialistas veem proposta como arriscada e potencialmente disruptiva para a economia global.
WASHINGTON/NOVA YORK – O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato à reeleição, Donald Trump, teria pedido a aliados europeus que considerem impor tarifas punitivas de 100% sobre produtos importados da China e da Índia. O objetivo da medida, segundo fontes familiarizadas com as conversas, seria pressionar economicamente o presidente russo, Vladimir Putin, ao mirar países que continuam a comprar petróleo e a financiar o esforço de guerra russo.
A proposta, descrita por fontes que preferiram permanecer anônimas para discutir conversas privadas, foi feita em diversos encontros com representantes europeus. A lógica por trás da sugestão é a de que, ao tornar proibitivamente caros os produtos chineses e indianos, a União Europeia e os EUA poderiam forçar Pequim e Nova Déli a parar de comprar commodities russas, secando uma das principais fontes de receita de Moscou para a guerra na Ucrânia.
A Lógica por Trás da Proposta
Desde o início da invasão russa à Ucrânia em 2022, os Estados Unidos e a União Europeia impuseram severas sanções à economia russa, incluindo embargo ao petróleo e um teto de preço para o crude transportado por mar. No entanto, países como China e Índia tornaram-se os maiores compradores do petróleo russo, adquirindo-o com descontos significativos. Essa brecha na estratégia ocidental tem mantido o fluxo de bilhões de dólares para os cofres de Moscou.
A sugestão de Trump reflete uma visão agressiva de usar o poder econômico dos EUA e da UE não apenas contra a Rússia, mas também contra nações terceiras que, em sua visão, sustentam indiretamente o esforço de guerra de Putin.
Críticas e Riscos Econômicos
Analistas e economistas reagiram à proposta com ceticismo e alertaram para riscos significativos:
- Guerra Comercial em Massa: Impor tarifas de 100% é visto como um ato econômico extremamente hostil, que quase certamente provocaria retaliações imediatas da China e da Índia. Isso poderia desencadear uma guerra comercial global de larga escala, disruptiva para as cadeias de suprimentos e a economia mundial.
- Inflação Global: Produtos importados de uma vasta gama de setores – desde eletrônicos e roupas até componentes industriais e farmacêuticos – teriam seus preços duplicados da noite para o dia. Isso alimentaria a inflação nos países ocidentais, impactando diretamente os consumidores.
- Fratura nas Alianças: A medida poderia criar uma divisão profunda entre o Ocidente e as nações do “Global South”, particularmente com a Índia, que é considerada um parceiro estratégico crucial para os EUA no contrapeso à China na região do Indo-Pacífico.
O Contexto Político
A revelação ocorre em um momento crucial em que Trump lidera as pesquisas para as eleições presidenciais americanas de novembro. Sua retórica sobre a guerra na Ucrânia frequentemente gira em torno de pressionar os europeus a fazerem mais e de encontrar uma solução rápida que não dependa exclusivamente de financiamento americano.
A proposta também ecoa a política de “America First” que marcou seu primeiro mandato, caracterizada pelo uso agressivo de tarifas como ferramenta de política externa e econômica. Se eleito, é esperado que Trump adote uma postura muito mais dura no comércio internacional.
Até o momento, não há nenhuma indicação de que a União Europeia, que geralmente prefere uma abordagem diplomática e multilateral, esteja considerando seriamente a adoção de tal medida. A Casa Branca e a campanha de Trump não comentaram oficialmente sobre o assunto.
A sugestão, no entanto, joga luz sobre o tipo de política externa não convencional e confrontacional que pode definir um eventual segundo mandato de Trump, colocando o comércio global no centro do tabuleiro geopolítico.