Subtítulo: A flexibilização monetária do Fed injeta otimismo global e impulsiona os exportadores japoneses, levando o principal índice da Bolsa de Tóquio a novos patamares.
TÓQUIO – O principal índice da bolsa de valores japonesa, o Nikkei 225, atingiu uma máxima intradiária histórica nesta quinta-feira, impulsionado por um sentimento de alívio e aversão ao risco no mercado global após a decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, de reduzir sua taxa de juros pela primeira vez após uma longa pausa. O movimento, que sinaliza uma postura mais accommodative da maior economia do mundo, serviu como um catalisador para investidores em todo o mundo, com o Japão colhendo benefícios imediatos.
O índice Nikkei chegou a marcar [Inserir valor aproximado, ex: 39.500 pontos] durante a sessão, um nível não visto desde seu pico histórico absoluto da era bubble, consolidando-se como uma das performances mais robustas entre os principais mercados acionários do mundo neste ano.
O Elo Transpacífico: Por que os juros dos EUA afetam o Japão?
A relação é fundamental para entender os movimentos dos mercados globais. A decisão do Fed de cortar juros tem um impacto direto e indireto no mercado japonês por meio de três canais principais:
- Divergência de Juros e Weakening do Iene: Com os juros americanos mais baixos, o diferencial de taxas entre os EUA e o Japão (que mantém uma política monetária ultraexpansionista) se estreita. Isso tende a enfraquecer o iene (JPY) frente ao dólar americano (USD). Para as gigantes exportadoras que formam a espinha dorsal do índice Nikkei – como Toyota, Sony, Honda e Nintendo – um iene mais fraco é uma excelente notícia. Seus produtos ficam mais competitivos no exterior e seus lucros em dólares, quando convertidos de volta para iene, tornam-se maiores, impulsionando seus resultados trimestrais e atraindo investidores.
- Aversão ao Risco Global: Taxas de juros mais baixas nos EUA tornam os investimentos de renda fixa, como títulos do Tesouro americano, menos atraentes. Isso leva investidores institucionais e fundos de hedge a buscar retornos mais altos em ativos de risco, como ações. O mercado acionário japonês, que tem apresentado reformas corporativas e valuations atraentes, se torna um destino compelling para esse fluxo de capital internacional (“money flow”).
- Expectativa de Crescimento Global: O corte de juros pelo Fed é frequentemente interpretado como uma medida para sustentar o crescimento econômico dos EUA, evitando uma recessão. Como os EUA são um crucial parceiro comercial para o Japão e para o mundo, a expectativa de uma economia americana mais aquecida significa maior demanda por produtos japoneses, alimentando o ciclo de otimismo.
Contexto Doméstico: Não Apenas uma Onda Externa
Especialistas apontam que o rally do Nikkei não é sustentado apenas por fatores externos. O mercado doméstico japonês tem passado por uma transformação significativa, impulsionada por:
- Governança Corporativa: Pressão por parte da Bolsa de Tóquio para que empresas melhorem sua eficiência de capital e valorização para os acionistas, incluindo aumento de recompra de ações e dividendos.
- Retorno da Inflação: Após décadas de deflação, o Japão vê uma inflação moderada, o que é saudável para as empresas aumentarem preços e lucros.
- Turismo e Consumo: A retomada robusta do turismo internacional pós-pandemia injetou bilhões de ienes na economia local, beneficiando setores de varejo e serviços.
Perspectivas e Cautela
Apesar do otimismo, analistas alertam para a volatilidade. O caminho futuro do Nikkei permanece intimamente ligado à trajetória da política monetária do Fed. Se os cortes de juros forem mais profundos e contínuos, o cenário permanece favorável. No entanto, qualquer sinal de que a inflação americana é persistente e possa forçar o Fed a manter os juros altos por mais tempo pode reverter parte desse movimento, fortalecendo o dólar e retirando o vento a favor das exportadoras japonesas.
Em resumo, a máxima momentânea do Nikkei é a conjunção perfeita de um estímulo externo poderoso – a flexibilização monetária dos EUA – com um cenário doméstico japonês mais sólido e reformado do que em muitos anos. O momento é de euforia cautelosa, com os olhos do mercado financeiro global fixos tanto em Washington quanto em Tóquio.
